quarta-feira, maio 13, 2009

Entrevista a Fernando Ferretti

Entrevista exclusiva de Fernando Ferretti ao infordesporto.pt
"A natureza do jogador português não é muito aguerrida"


Fernando Ferretti, a caminho dos 55 anos, é um dos melhores treinadores do mundo, com um currículo invejável, nos clubes e na selecção. Em entrevista exclusiva ao infordesporto.pt, Ferretti fala do "amigo" Orlando Duarte, aponta a principal falha do jogador português de futsal, do convite a Ricardinho para estagiar na sua equipa (Malwee) em 2007, entre outros assuntos.

- É um dos técnicos de futsal mais conceituados de todo o mundo. Conhece bem o Orlando Duarte. Qual a sua opinião do seleccionador português?
O Orlando Duarte é um amigo de longos anos, desde que começei na Selecção Brasileira em 2001. Tive o prazer e a honra de conhecer uma pessoa de qualidade, em termos pessoais e termos técnicos. Eu vejo a selecção portuguesa, tal como o próprio futsal português, que evoluiu muito nos últimos anos. Teve um acidente de percurso nesse último mundial, onde a Portugal foi visivelmente prejudicado pelas selecções do Paraguai e da Itália, mas também em virtude do desaire da primeira rodada. Todo o mundo lamentou, porque Portugal estava muito bem e assim não seguiu no Mundial. Mas isso não invalida o trabalho que tem sido feito na selecção portuguesa, e que acompanho com muita alegria.

-A selecção portuguesa e as equipas portuguesas estão perto dos títulos, mas “falta o quase”. O que falta mesmo, na sua opinião?
A minha opinião é muito particular. Eu acho que a natureza do jogador português de futsal não é muito aguerrida. São jogadores que jogam bem, têm boa técnica, mas não são jogadores suficientemente valentes quando chegam os momentos chaves da competição. Acompanhei a selecção portuguesa quando era treinador do Brasil e na minha opinião, os jogadores portugueses não são muito determinados em momentos importantes. Eu vi isso no Europeu de Itália 2003, em que falta um pouco de competitividade no futsalista português, porque tem muita qualidade. Mas reforço que a natureza da equipa tem de ser mais aguerrida para as competições internacionais.

- Ricardinho, do Benfica, é apontado como um dos melhores do mundo, com um pé esquerdo “tão bom” como o de Falcão. É exagero de avaliação?
O Ricardinho é muito bom jogador. Estivemos pela última vez juntos em Portimão. O Ricardinho impressionou muito, já conhecia à distancia pela televisão. É um grande jogador, excelente, e ele até prometeu vir fazer um estágio connosco, passar uns dias na Malwee a treinar mas acabou por não se confirmar. Estava esperando por ele e íamos recebê-lo com muita alegria por se tratar de um craque, de boa pessoa. Fizemos esse contacto por ocasião da Copa Intercontinental em Portimão, mas acabou por não vir. Trata-se de um grandíssimo jogador, e isso é muito importante como referência para qualquer futsal, como tem o Falcão no Brasil. Eu concordo com tudo o que se diz dele.

- Uma das questões tácticas que é apontada como eventualmente estar a prejudicar o futsal, é o uso abusivo do guarda-redes avançado, mesmo em vantagem no marcador. Concorda que devia voltar a ser proibido impedir o guarda-redes de subir? Ou eventualmente alargar a regra dos 4 segundos também para depois do meio-campo?
Não concordo. Eu acho que o "goleiro linha" tem o seu atractivo. Acontece que as pessoas lamentam, porque por exemplo você está ganhando um jogo por três zero faltando cinco minutos e acaba perdendo o jogo. Porque a verdade é que você não se prepara suficientemente bem para defender essa jogada ou quando você está a dar a volta ao marcador você não se prepara suficientemente para fazer golos com essa jogada. As pessoas ficam satisfeitas pelo facto de ter vantagem numérica, mas isso não é suficiente. Porque quando você joga parado, equilibra a defesa, e defesa equilibrada faz com que quatro continuem marcando cinco. O "goleiro linha" para mim é atractivo, e acho que deve continuar como está. O é preciso é ter mais alternativa para a defesa e para o ataque.
Todo o mundo se lamenta. Você organiza uma partida três quartos do tempo muito bem e depois o adversário dá a volta ao jogo, mas muito porque você não está preparado para marcar essa jogada. Na verdade é uma desculpa de quem não se prepara bem para marcar essa jogada.

- O jogo de futsal está cada vez mais equilibrado e competitivo, fisicamente forte, nomeadamente as selecções de leste europeu, que se fecham e defendem nos 10 metros. Como o critério de arbitragem está mais largo, acha que deviam reduzir a “sexta falta” para “quarta falta”, por exemplo, para promover o futsal ofensivo?
Tudo o que se fizer para tornar o futsal mais ofensivo, para combater o anti-jogo eu aplaudo. É uma situação a estudar, mas também voltamos à pergunta anterior. Quando as equipas defendem muito atrás, o que em teoria é um erro, acaba por ser positivo, porque a maioria dos adversários não tem muita solução para resolver isso. Então é também um pouco mais de trabalho táctico, o adversário dá-te a posse de bola, e isso tem que ser uma vantagem. Uma equipa de qualidade tem que estar preparada para vencer esse tipo de defesas. Mas, de qualquer maneira, tudo o que for feito para valorizar o futsal técnico conta com o meu aplauso.

Fonte: Infordesporto

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