sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Uma questão de formação

Nenhum edifício começa pelo telhado, tal como nenhum projecto avança se não tiver uma base bem alicerçada.
O futsal português está a tentar inverter a ordem lógica das coisas, ao esquecer que para se ter sucesso no escalão principal deve apostar-se fortemente na formação.
A expansão nos últimos anos já exigia um maior investimento, seja por parte dos clubes como dos organismos federativos. São cada vez mais as crianças que praticam a modalidade como desporto escolar e começam a ter os jogadores de futsal como referência e ídolos. Mas como podem sonhar algum dia chegar ao patamar de atletas como João Benedito ou André Lima se não tiverem apoio ou impulso?
Para alguns críticos o mal do não aparecimento de bons jogadores portugueses é a vinda de opções do Brasil. Não consigo concordar com esta ideia. Esse é um mal menor numa malformação do nosso futsal, que todos teimam em fechar os olhos.
Vamos ver até quando...

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com o tuga atento e com a Claudia, como sempre a fazer grandes trabalhos...
Como é possivel um clube como o freixieiro, que custuma estar sempre no topo nas camadas jovens, possuir no plantel senior 3 portugueses a jogar com regularidade... Toni, Israel, e Miguel Mota... Depois tem o Ricardo um jovem valor do nosso futsal, mas sao poucos os minutos que ele joga... Apareceu agora um novo ricardinho, mas tambem nao tem jogado muito... Mas o pior é mesmo o carregamento de brasileiros, Ivan(para mim não é portugues...) Mide,Wilson,Julio Cesar,e estes 2 novos reforços... Onde anda o trabalho de formaçao? Onde andam os campeoes de juvenis de juniores... A nossa mentalidade é muito reduzida, preferem ir a uma praia escolher meia duzia de brasileiros que sabem dar um chuto numa bola e ja é jogador, em vez de trabalhar os jovens jogadores! somos um país com pouco amor proprio... O futuro de Portugal passa por nos, portugueses, e nao pelos outros...

Anónimo disse...

http://www.artigoopiniao.blogger.com.br

7.4.05

Os brasileiros na Selecção Italiana

Luca Ranocchiari - Futsalplanet.com

Antes demais quero agradecer ao Ricardo Santos e seus colaboradores pela difusão do futsal em Portugal e no estrangeiro. Há que trabalhar para isso. Perguntaste-me sobre a utilização de brasileiros na selecção italiana e Liga. Bem, é um tema bastante difícil e delicado de ser analisado, mas vou dar-te a minha humilde opinião que é a única coisa que posso fazer.
No entanto, quero ressalvar uma coisa: há que respeitar as outras opiniões, mesmo quando estas digam "maluquices" ou mentiras de "má fé". Há que respeitar, pois esse é o verdadeiro conceito de expressar opiniões. Eu tenho uma ideia muito clara da situação do futsal em Itália, do positivo e do negativo, do que já fizemos que acho que temos de fazer.
Agora, a Itália é uma reconhecida "super potência" do futsal mundial: campeã europeia 2003, vicecampeã mundial 2004 e que jogou muito bem em Ostrava, apesar do resultado ter sido uma desilusão face ao que se esperava. Em futsal, todavia, não há só que olhar para os resultados no campo. Há que analisar muitos outros factores do próprio desporto.
Em suma, o que é uma selecção nacional? É o vértice de um movimento desportivo, onde está representado o máximo nível desse desporto. É a expressão máxima de cada modalidade. Por isso é que todos são aficcionados pela Selecção, ou pelo menos deveriam ser.
Considera-se que ao nível da Selecção Nacional se vêem os resultados do trabalho de base de todo o futsal nacional, desde as camadas jovens aos clubes da I divisão Nacional. Isso faz-nos compreender as razões da polémica em Itália. Uma selecção que utiliza jogadores "oriundi"* (10 em 14 - Caserta 2003; 12 em 14 - Taipé 2004 e 14 em 14 - Ostrava 2005 - apenas para citar as três últimas competições de grande nível). Estas polémicas têm outros exemplos de impacto menor, como em Espanha ou em Portugal, mas vamos analisar a Itália, pois é onde o fenómeno é mais visível.

Antes de 1999, a Itália apenas utilizava jogadores nascidos em Itália, italianos a 100%. Claro que não tinha a possibilidade de competir com o Brasil, tão pouco estar a par a Rússia ou da Espanha (que nesta fase estava numa trajectória impressionante). O nível era o de Portugal, da Bélgica, da Holanda e de muitos países que tentavam desenvolver o seu futsal, muitas vezes com jogadores precedentes do futebol 11.
Conseguir resultados, como se pode imaginar, não era muito fácil, mas havia a satisfação de saber que os jogadores eram um "produto interno", como os casos de Rubei, Quattrini e muitos outros que agora não vou mencionar. Era, nada mais, nada menos que o resultado do futsal nacional, o que a Itália era capaz de obter com as suas forças. Era uma selecção que não tinha oportunidade de ganhar, mas tinha todos os aficcionados unidos por ser italiana. Agora, como é fácil de entender, as coisas mudaram e muito.

Para mim, toda a discussão sobre os "oriundi" em Itália é muito simples em tão grande complexidade. Pode solucionar-se o futuro numa só palavra: Falta de Formação.
Tenho algo contra os brasileiros que me impeça de vê-los jogar na selecção? Não, certo que não. Eles são jogadores de grande nível, óptimas pessoas, profissionais de futsal e que são sempre bem vindos a Itália. Isso é algo que tem de ficar claro, porque nos últimos anos muitas pessoas têm falado sobre o problema de ter um "Brasil 2" como selecção nacional ligando isso ao racismo. Nada disso! Diria o mesmo se fosse português ao ver o Marcelinho, o Leo e o Ivan, ou espanhol a ver a selecção de Espanha com Paulo Roberto, Ferreira, Daniel e Marcelo, em particular, e outros como Edesio, Purão e Balo.

Há algo de escandaloso em ver 2 ou 3 brasileiros numa selecção europeia? Creio que não. E em ver 14? Não, caso a realidade não me interesse. Porque são 1, 2 ou 14? A chave está na formação como já antes referi.
A Itália tem necessidade de convocar 14 brasileiros para ganhar? Claro, porque não tem jogadores italianos ao mesmo nível, que pergunta...
E porque é que não tem jogadores italianos ao mesmo nível?É claríssimo! Porque os clubes e a federação não têm um trabalho na base, nas camadas jovens. Resumindo: não tem formado jogadores.

As polémicas não tomam em conta o verdadeiro problema, esse é o mal do futsal italiano. O problema não é o jogador brasileiro em Itália, o problema é a falta do jogador italiano em Itália, algo incrível...
Há outra coisa de grande importância. Trabalhar com a formação é algo muito complicado e não se pode ver isto de maneira superficial. Para treinar jovens, e fazer com que sejam jogadores de futsal de bom nível, há que ter infra-estruturas desportivas, treinadores de formação (o que pressupõe a formação dos treinadores, outro problema) e, claro, dinheiro, organização e profissionalismo. Não é algo que se consige em dois dias, isso leva anos de trabalho. Não se pode pensar em ter um forte movimento no futsal sem se terem bases.

Agora, isto é o futsal italiano, um "colosso" que pode cair a cada momento, porque não tem uma estrutura completa. E que mérito há em ganhar com uma selecção que tem escola brasileira e que se aproveita do trabalho dos treinadores brasileiros e onde Vinicius (Bacaro), Seco (Zanetti), Nando Grana, Foglia, Carlinhos (Montovanelli) e outros aprenderam a jogar?

Não há outra opção para mim. Tem de se começar a trabalhar no futsal juvenil - o exemplo do Brasil pode ser seguido. A Itália já devia ter feito isto à 15 anos atrás, mas é melhor tarde do que nunca...

Não pretendo ser crítico contra a Federação, tão pouco com o "staff" da selecção. Em Itália também temos coisas boas no futsal e organizar um movimento que não é profissional é algo bastante difícil.

Mas também quero denunciar coisas que são ridículas, como a "italianização" dos nomes dos jogadores brasileiros que sempre utilizaram o seu apelido ao longo do trajecto desportivo, mas não o podem fazer em Itália. Utilizam um nome diferente para que pareçam nascidos em Itália. Isso é algo que ofende a inteligência dos aficionados italianos.

Porque é que a Selecção levou 15 jogadores a Ostrava (o 15.º era o único italiano), quando na verdade só eram permitidos 14 atletas pela UEFA, assim como pela FIFA no Mundial? Isto são mentiras de baixo nível.

Tudo isto contribuiu para que uma grande potência do futsal tenha perdido credibilidade e dignidade. Mas há sempre a possibilidade de melhorar, melhorar de maneira correcta que é o que se pretende.

Não havia todas estas polémicas se se conseguisse entender a verdadeira importância das discussões sobre futsal. Não se trata de estar contra ou a favor dos brasileiros, dos italianos ou de outros jogadores de outras nacionalidades, é simplesmente estar a favor do que amamos: o FUTSAL.

* "oriundi" - jogadores de ascendência italiana

posted by RICARDO SANTOS @ Quinta-feira, Abril 07, 2005